quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Com votos da oposição, prorrogação da CPMF é rejeitada

Por 45 votos a favor e 34 votos contra, a prorrogação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) foi rejeitada, no início da madrugada desta quinta-feira, no Plenário do Senado. Eram necessários 49 votos a favor.

O Senador Inácio Arruda lamentou a rejeição da CPMF e afirmou, aos que votaram contra a matéria, que retirar os R$ 40 bilhões arrecadados anualmente com a cobrança da CPMF do orçamento federal não é votar contra o governo, mas votar contra o Brasil: Negar a CPMF neste momento é como negar o país, quase um ato criminoso contra a saúde e contra o povo brasileiro”, argumentou Inácio.

A líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC), disse que ''o país continuará crescendo e distribuindo renda, pois o presidente Lula não mudará sua política. Mas, talvez, o ritmo não seja este que tanto está animando a população”.

Mostrando que a CPMF era um fator de redução das diferenças sociais, Ideli Salvatti citou a pesquisa CNI/Ibope publicada nesta quarta (12), segundo a qual metade dos brasileiros considera que sua vida melhorou. “O Brasil cresce e distribui renda”, disse. “No ritmo em que estamos, alcançaremos condições dignas para toda a população”. Segundo a senadora, não existia justificativa para não prorrogar.

Fonte: Site Senador Inácio Arruda

Lista dos cem 'gênios vivos' traz Niemeyer em 9º lugar


Nossa cidade, que se orgulha de ter um monumento idealizado por Oscar Niemeyer em homenagem à Coluna Prestes, se associa ao grande arquiteto brasileiro ao ser incluído na lista dos gênios vivos.





O arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer ficou em nono lugar num ranking que reúne os "100 maiores gênios vivos", compilada pela empresa de consultoria global Synectics. A lista considerou fatores como aclamação popular, poder intelectual, realizações e importância cultural para eleger os vencedores.
Arquiteto faz cem anos em dezembro Segundo o documento divulgado pela consultoria, Niemeyer é um "dos nomes mais importantes da arquitetura moderna internacional e pioneiro por ter explorado as possibilidades de construção do concreto armado". O arquiteto dividiu o nono lugar com o compositor americano Philip Glass e o matemático russo Grigory Perelman.

"Seus prédios têm formas tão dinâmicas e curvas tão sensuais que muitos admiradores dizem que, mais do que um arquiteto, ele é um escultor de monumentos", aponta o documento. Oscar Niemeyer - que completa cem anos no próximo dia 15 de dezembro - é o autor de projetos de dezenas de edifícios construídos em Brasília, entre eles o Palácio da Alvorada, o Congresso Nacional e a Catedral de Brasília.

A lista foi encabeçada pelo químico suíço Albert Hoffman, criador da droga LSD, que provocou uma revolução nos tratamentos psiquiátricos nos anos 40. Hoffman dividiu o primeiro lugar com o cientista de computação britânico Tim Berners-Lee, criador do domínio World Wide Web, conhecido como "www".

A listagem ainda contemplou personalidades como o megainvestidor americano George Soros (3º), o animador e criador da série Os Simpsons, Matt Groening (4º), Nelson Madela (5º), o físico inglês Steven Hawking (7º), o músico Daniel Barenboim (19º), o magnata das comunicações Rupert Murdoch (20º), o jogador russo de xadrez Garry Kasparov (25º), além do cineasta americano Steven Spielberg (26º).

Sobre lembranças, águas e bispos


Andando pelas páginas virtuais da internet, mais precisamente no Portal Vermelho - http://www.vermelho.org.br/ - lí esse artigo do professor e escritor Joan Edessom, muito interessante, sobre a tal "greve de fome" do bispo Luiz Cappio contra o Projeto de Transposição de Águas do Rio São Francisco. Vale a pena refletir sobre o que está dito aí, principalemente nós, cearenses que vivemos muitos problemas devido 'a falta dágua.






Sobre lembranças, águas e bispos


Uma das lembranças mais fortes que trago da minha infância é sobre a água. Melhor dizendo, sobre a falta de água. Nasci em uma região encravada entre os Inhamuns e o Cariri cearense. Dali só saí aos vinte e três anos, para morar perto do mar, em região de água abundante. Cresci sob o signo da seca, da sede, da miséria que habitava próximo, sempre à espera de uma oportunidade para se instalar sem ser convidada. Conheci Fortaleza, capital do Ceará, aos dezenove anos. Até então eu era, e continuo a sê-lo, um matuto do Cedro, um beiradeiro do sertão cearense.


Nessas lembranças da minha infância, vejo o menino magro que eu era, franzino, feio, acordado pelo pai pela madrugada, duas, três da manhã, para, sonolento, arrastando-se preguiçosamente, ir buscar água em uma cacimba a cerca de um quilômetro de casa. Essa era, cessadas as chuvas, uma tarefa cotidiana, diária. Precisávamos da água para beber, cozinhar, tomar banho, lavar as roupas.


Quanto mais longe iam as chuvas, mais as cacimbas se enterravam no chão, mais adentrávamos o leito seco do Açude Novo. As cacimbas eram feitas cavando-se o chão, fazendo degraus na terra, às vezes dois metros ou mais de fundura, e colocando-se ali um enorme tambor de duzentos litros, para onde a água ''minava'' e de onde a tirávamos com uma cuia para encher nossos ''galões'', os do meu pai duas latas grandes de vinte litros, e os meus dois baldes menores, feitos de folhas de flandres, pendurados por um arame ou por uma corda em um ''pau de galão'', que carregávamos ao ombro.


Por vezes, quando era maior a estiagem, mesmo na madrugada, com menos gente disposta àquele trabalho, enfrentávamos filas com vinte, trinta pessoas, na mesma tarefa que nós. Na beira da cacimba, esperando a água subir aos poucos, demorávamos às vezes trinta, quarenta minutos, para conseguir encher duas latas de água. Depois, o caminho íngreme até a casa. Com sorte conseguíamos fazer duas ''viagens'', dois ''caminhos'', como chamávamos então, das duas às seis, seis e meia da manhã. O tempo apenas de tomar o café e irmos para a aula, eu e meu irmão mais velho. Por vezes, nossas duas irmãs tinham que nos acompanhar, lata d'água na cabeça, e aqui não se tratava apenas de letra de música.


Os que tinham um pouco mais do que nós (meu pai era carteiro e minha mãe uma ex-professora primária que largara o ofício para cuidar dos filhos), os mais abastados, pagavam a um cargueiro, como chamávamos os que viviam de ''botar água'' nas casas, em quatro latas de querosene carregadas num jumento ou então nas ancoretas feitas de pneu velho e madeira.


Na minha cidade não havia sistema de abastecimento de água, isso para nós é uma novidade de uma década, talvez um pouco menos. Quando vi um chuveiro pela primeira vez eu era um adolescente, de dezesseis ou dezessete anos, talvez. Sou, repito, marcado pela sede, pela miséria, pela falta de água. Acho que por isso os meus olhos gostam tanto da chuva, e o meu corpo inteiro adivinha a sua chegada. Por isso, pela minha infância, pelas minhas memórias tão vivas ainda hoje, não entendo dom Cappio e sua greve de fome. Não consigo entender os seus motivos e os dos que lhe apóiam.


Alguns milhões de nordestinos, para quem a transposição poderá significar a diferença entre a vida e a morte, alguns milhões de nordestinos para quem a sede e a fome não são uma opção, mas uma imposição, certamente também não o entenderão. Vi, no início dos anos de 1980, após quatro anos de seca; vi, diariamente, os anjinhos a caminho do cemitério. De uma feita, três pequenos caixões passaram por mim de uma vez, três irmãos mortos no mesmo dia, de fome, de sede. Eles foram obrigados à ''greve de fome'', milhares continuam sendo obrigados a ela até hoje, no sertão nordestino, nessa parte aonde isso pode ser minorado com a transposição. Não me peçam para entender dom Cappio e seus motivos.



* Joan Edessom de Oliveira é escritor e professor